Teste psicológico para aval à soltura de Cristian Cravinhos cita dificuldades do detento em lidar com emoções e em relações interpessoais
29/01/2025
Condenado pela morte do casal Richthofen, Cravinhos tenta a progressão para o regime aberto. Resultado do teste foi publicado nesta quarta-feira (29). Decisão para soltura do detento depende da avaliação de um juiz. Cristian Cravinhos foi preso em Sorocaba (SP)
Carlos Dias/G1
O resultado do teste de Rorschach realizado por Cristian Cravinhos -- condenado pela morte do casal Richthofen em 2002 -- apontou que o detento possui dificuldade em lidar com as emoções e em relações interpessoais. Ele atualmente cumpre pena no regime semiaberto na Penitenciária "Dr. José Augusto Salgado", a P2 de Tremembé, no interior de São Paulo.
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▶️ O Teste de Rorschach consegue captar elementos e traços da personalidade profundos dos pacientes analisados e serve para identificar, por exemplo, se uma pessoa presa está apta a retornar ao convívio em sociedade. A avaliação consiste na projeção de imagens, que parecem com manchas de tintas.
Apesar de o teste ter sido realizado no fim de novembro do ano passado, o resultado só foi publicado nesta quarta-feira (29). Os apontamentos feitos pela psicóloga responsável pelo teste, ao qual o g1 teve acesso, indicam que ele também opta por 'distanciamento emocional'.
“Cristian demonstra dificuldade em lidar com as emoções de forma espontânea, optando predominantemente por estratégias de racionalização e distanciamento emocional”, diz um trecho.
Outra parte do laudo diz que Cravinhos tem uma percepção mais limitada do outro, o que pode sugerir uma possível dificuldade nas relações interpessoais.
“Essa dificuldade parece estar relacionada a um desinteresse pelos outros e pelos relacionamentos que, aliado a mecanismos empáticos deficitários, prejudica significativamente sua adaptação a contextos sociais e emocionais mais desafiadores, comprometendo a qualidade de suas interações interpessoais”, acrescenta a psicóloga.
Imagem de arquivo - Cravinhos em saidinha temporária
Reprodução/TV Vanguarda
O laudo ainda cita que, em caso de decisão favorável da Justiça à progressão dele para o regime aberto, será necessário que ele tenha acompanhamento psicológico constante, além de monitoramento intensivo, com o objetivo de minimizar riscos de reincidência.
“A implementação de acompanhamento psicológico regular e monitoramento intensivo, caso a progressão de regime seja autorizada, visando minimizar os riscos de reincidência e promover maior integração social”, conclui o laudo.
No documento ainda foram listadas algumas características de personalidade de Cristian Cravinhos. Segundo o laudo, os dados obtidos indicam “traços disfuncionais de personalidade, caracterizados por rigidez emocional e controle excessivo”.
Veja outros pontos indicados no documento:
expressão afetiva marcadamente rígida e controlada;
dificuldade em compreender e integrar suas emoções de maneira objetiva, resultando em reações que são frequentemente influenciadas por fantasias e ideias pouco realistas;
embora tenha conhecimento das normas sociais, Cristian não se identifica com elas, o que pode indicar dificuldade em internalizar valores sociais de maneira consistente;
apesar de demonstrar um nível adequado de assimilação e aceitação das normas e padrões sociais, Cristian não parece identificar-se plenamente com eles;
demonstra atenção excessiva aos fatos externos, que se acompanha de uma exigência de autocontrole exacerbada, o que o leva a julgar a realidade com maior rigor e apego ao que lhe é mais familiar;
demonstra capacidade de relacionar-se facilmente com o meio externo e com os outros, ao mesmo tempo em que é capaz de deter-se em suas próprias ideias e reflexões;
recorre predominantemente à racionalização e ao distanciamento emocional como estratégias para preservar o controle sobre suas emoções, evitando a manifestação espontânea de seus impulsos internos.
O teste de Rorschach ao qual Cravinhos foi submetido é um pedido comum da Justiça para avaliar se o detento tem condições ou não de progredir para o regime aberto.
No caso dele, a juíza Sueli Zeraik de Oliveira Armani, da Vara de Execuções Criminais da Comarca de Taubaté, solicitou um novo exame pois, da última vez que esteve no regime aberto, Cravinhos foi preso após agredir uma mulher e tentar subornar policiais, em Sorocaba, em 2018.
O pedido de liberdade ainda terá que ser analisado pelo Tribunal de Justiça de São Paulo, que pode solicitar a realização de um novo exame criminológico para uma avaliação psicológica do preso antes de uma decisão, por exemplo. Não há prazo de quando o pedido deve ser avaliado.
O g1 acionou a defesa de Cristian Cravinhos, mas, até a publicação desta reportagem, não obteve retorno. A matéria será atualizada caso a defesa se manifeste.
Cristian Cravinhos é preso por tentativa de suborno de policiais no interior de SP
O crime
Cristian foi condenado por participar do assassinato do casal von Richthofen junto de seu irmão Daniel Cravinhos, que à época era namorado de Suzane von Richthofen, também condenada pelo crime.
Atualmente, ele cumpre pena em regime semiaberto na Penitenciária Dr. José Augusto César Salgado, conhecida como P2 de Tremembé. O local recebe presos de outros casos de repercussão, como, por exemplo, o ex-jogador de futebol Robinho.
Cravinhos chegou a progredir para o regime aberto em 2017, quando se cumpre a pena fora da prisão, mas perdeu o benefício depois de ser detido em uma confusão em que tentou subornar policiais.
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