(Foto: Reprodução) A internet faz parte da vida e invade todas as áreas do cotidiano, sempre mais veloz e, por vezes, mais
devastadora com seu potencial de hiperconexão A Unesco afirma que: “Um cidadão digital é capaz de entender os princípios que governam o ambiente digital, analisando o lugar das tecnologias na sociedade, seu impacto na nossa vida cotidiana, seu papel na construção de conhecimento e seus usos para participação social. Uma cidadã digital é capaz de navegar o complexo contexto digital e entender as implicações sociais, econômicas, políticas e educacionais. Um cidadão digital sabe como fazer uso reflexivo e crítico da Internet, tanto para análise crítica quanto para participação democrática". (UNESCO, ”Digital Citizenship as a Public Policy in Education in Latin America", 2020, p. 4). Então, como aprender a conciliar e administrar nossas vidas presencial e virtual? Como orientar jovens e crianças a lidarem e se resguardarem do universo digital que tanto traz soluções práticas como riscos e desafios?
Fotos: Alpha/ Divulgação
Novos estudos e novas Leis para enfrentar o universo virtual
Dados do TIC Kids Online Brasil 2022 revelam que cerca de 96,5% das crianças e adolescentes de 9 a 17 anos usam a Internet todos os dias e mais da metade (56%) usa apenas pelo celular. Cerca de 86% têm perfil em rede social (principais são Instagram e Tiktok). Sabemos, por exemplo, que 24% passaram menos tempo com a família, amigos ou fazendo lição de casa porque ficaram muito tempo online e cerca de e 33,1% deles (cerca de 8,5 milhões) relataram terem enfrentado situações ofensivas, desagradáveis ou que os deixaram chateados no ambiente digital. Essas são, infelizmente, situações cotidianas vivenciadas online que impactam diretamente sua saúde e bem-estar e essas questões vem atingindo cada vez mais jovens e crianças.
Nesse contexto de saúde mental, o uso excessivo da internet por meio de celulares e outros aparelhos vem trazendo questionamentos. De fato, estudos mostram que o uso do celular durante as aulas gera desconcentração, dificulta o trabalho dos professores, e pode ser utilizado para fins prejudiciais como por exemplo o ciberbullying e jogos de azar. São usos que têm atrapalhado o ensino-aprendizagem e são fomentados pelo hiperestímulo que esses dispositivos oferecem, em especial nas redes sociais. Existem argumentos fortes para justificar a restrição do uso, pelos estudantes, de celulares e outros aparelhos eletrônicos portáteis no ambiente escolar. Incluem, por exemplo, o estímulo para que os estudantes se socializem fora das telas e os ganhos em concentração durante as aulas. Nesse sentido, foram promulgadas a Lei Federal nº 15.100/2025 e a Lei Estadual nº 16.567/2017 , que proíbem o uso de aparelhos eletrônicos e de celulares nas escolas durante o horário escolar sendo permitida a utilização apenas para fins pedagógicos e em situações excepcionais. No entanto, para além de proibições é preciso orientação para que estudantes aprendam a viver e administrar o mundo virtual de forma responsável e consciente, sabendo extrair o melhor desse universo que se fixou em nossas vidas de forma irreversível.
O celular: vilão ou solução?
Está previsto na Base Nacional Comum Curricular, Competências e Habilidades como a descrita a seguir: “Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e comunicação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais (incluindo as escolares) para se comunicar, acessar e disseminar informações, produzir conhecimentos, resolver problemas e exercer protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva". (BNCC, 2018, p. 11). Para que essas competências e habilidades possam ser desenvolvidas é preciso trabalhar com dispositivos como celulares e outros aparelhos eletrônicos portáteis que viabilizem a conexão com o mundo virtual.
O celular é o dispositivo mais utilizado por todos, incluindo adolescentes, para acesso a serviços digitais cotidianos, como efetuar um pagamento por Pix na lanchonete da escola, acessar cursos e aplicativos online e armazenar documentos e livros digitais. A internet também pode ser uma fonte de apoio e de acesso a canais de ajuda diante de situações de sofrimento mental e segundo o estudo de 2022 da TIC Kids Online Brasil, 30% das crianças e adolescentes entre 11 e 17 anos declararam ter usado a Internet para procurar ajuda diante de emoções ou acontecimentos ruins. Daí nasce o desafio de como equilibrar as proibições implementadas pelas recentes Leis com as ações necessárias para o desenvolvimento previsto na BNCC.
Como preparar nossos estudantes para o uso seguro, consciente, crítico e saudável das tecnologias e questões essas que estão conectadas diretamente à formação cidadã dos estudantes e a defesa de seus direitos dentro e fora das escolas? Como prepará-los para lidar com questões como ciberbullying, contato com conteúdos nocivos, uso excessivo, educação midiática, privacidade e proteção de dados, comportamentos de risco online, radicalização política, saúde mental, entre outros? Estes desafios persistem e transpassam o ambiente escolar. Limitar o uso de celulares não deve isentar as escolas de ter em seus currículos discussões que abordem essas questões.
A Importância da Educação Digital nas Escolas
As escolas têm um papel central nesse esforço de conscientização e a inclusão da segurança digital como parte do currículo escolar é uma medida essencial. Aulas dedicadas a temas como privacidade online, cyberbullying e comportamento ético na internet podem ajudar a criar um entendimento mais profundo sobre os riscos e responsabilidades do uso da tecnologia. A nova legislação contempla algumas brechas que permitem caminhos para a educação digital com o uso pedagógico dos celulares, alinhando-se às diretrizes da Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Escolas já usam o celular como ferramenta para criar aulas mais participativas mediadas pelos professores - pesquisas, acesso a conteúdos multimídia pedagógicos, acesso a plataformas educativas e a ferramentas paradidáticas, jogos educativos etc.. Mas para além desse uso como ferramenta, é necessário orientar os estudantes sobre o uso seguro, consciente, crítico e cidadão dessas tecnologias.
Nesse contexto, é preciso o desenvolvimento de estratégias para abordar e construir vivências que estabeleçam uma relação saudável e produtiva no universo virtual. Um bom ponto de partida é ouvir estudantes, corpo docente e as famílias, para entender suas expectativas e receios e construir juntos estratégias que funcionem para o contexto específico de cada escola. Ações como promover momentos de diálogo, plantões de dúvidas, reuniões com grupos de representantes são algumas das ações para construir soluções coletivas que permitam a todos os atores envolvidos serem ouvidos e representados. Isso contribui para a criação de um ciclo positivo de formação de cidadãos conscientes, críticos e responsáveis no uso das tecnologias digitais.
Alguns dos Projetos desenvolvidos pelo IAL - Instituto Alpha Lumen para educação digital
O Projeto do Instituto Alpha Lumen - PERIGOS VIRTUAIS, apresentado a mais de 1 mil estudantes, visa levar informações para alunos de escolas públicas sobre o uso consciente e responsável do mundo virtual. Alertá-los sobre o risco que correm ao acessar a internet tornando-os conscientes e capazes de identificar situações adversas na rede e saber como se proteger e denunciar de forma segura.
Divulgação
O IAL desenvolve pesquisas em educação, altas habilidades, tecnologia e saúde mental e tem uma escola de aplicação – a Alpha Lumen. A entidade busca soluções de qualidade em educação, prioritariamente para estudantes de escolas públicas. Dois dos projetos se destacam na área voltada para a educação digital. O primeiro é o Projeto Perigos Virtuais, que leva até estudantes de Fundamental 2 e Ensino Médio, de escolas públicas estaduais, o debate de temas como privacidade online, cyberbullying e comportamento ético na internet, fake News, vício em jogos virtuais, entre outros. Por meio de esquetes de teatro que simulam situações reais, palestras com especialistas e rodas de conversa com psicólogos, mais de 1 mil estudantes compartilharam suas experiências e discutiram o impacto de suas vivências virtuais, recebendo orientações de como reconhecer preventivamente essas situações, como lidar e como buscar ajuda para enfrenta-las.
O segundo projeto nasceu a partir das observações realizadas junto aos estudantes das escolas públicas no decorrer das atividades do projeto Perigos Virtuais. Utilizando as informações como base para a pesquisa que identificou os principais desafios enfrentados pelos estudantes, foi elaborado o jogo educativo "Perigos Virtuais", que surge como uma poderosa estratégia preventiva, e pode ser baixado do Play Store para o celular de forma gratuita.
O jogo coloca os alunos no papel de aliados do Bando Detetive, o grupo de amigos que enfrenta ameaças virtuais para proteger seus colegas. Essa narrativa gamificada permite que os estudantes, de 9 a 14 anos, aprendam como lidar, de modo preventivo, com situações adversas no mundo virtual enquanto resolvem mistérios, coletam pistas e enfrentam cenários inspirados em problemas reais do mundo digital. O game pode ser também utilizado dentro das famílias para trabalhar situações adversas dentro do universo virtual, ou ser incorporado às atividades escolares gerando espaço para debates e reflexões.
A conscientização coletiva é um passo fundamental no caminho da prevenção. É preciso incluir a reflexão, debate e orientação dentro das escolas junto a adolescentes e crianças, para que aprendam a coexistir nesses dois universos que hoje compõem nossa vida e saibam administrar de forma responsável e consciente as oportunidades, facilidades e perigos aos quais todos somos expostos a partir da hiperconectividade.
O jogo, “Perigos Virtuais” não apenas conscientiza, mas também engaja, tornando o aprendizado acessível e eficaz. Ao explorar soluções lúdicas como essa, conseguimos construir uma geração mais preparada para os desafios e oportunidades do mundo online. O projeto foi realizado pelo Alpha Studios do Instituto Alpha Lumen, com o apoio da Fundação Cultural Cassiano Ricardo e da Lei Paulo Gustavo.
Divulgação
Saiba mais.